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🚨 Mutirões de Cirurgia no SUS: Solução Real ou Cortina de Fumaça?

📄 Introdução

Nos últimos dias, manchetes e posts oficiais celebraram os mutirões de cirurgias e atendimentos realizados em hospitais universitários e estaduais de todo o Brasil.

Em um único fim de semana, mais de 29 mil atendimentos foram registrados, incluindo consultas, exames e quase 2 mil cirurgias eletivas.

A iniciativa foi anunciada como resposta à “demanda reprimida” e ganhou tom de vitória para o Sistema Único de Saúde.

Mas será que esses mutirões representam de fato um avanço estrutural ou seriam apenas paliativos, usados como cortina de fumaça para esconder falhas de gestão e a baixa produtividade crônica de muitos hospitais públicos?


🌐 Por que surgem os mutirões?

Os mutirões não são novidade. Surgem geralmente quando a fila de espera chega a níveis insuportáveis, gerando pressão social e política. Entre as razões para sua existência, podemos destacar:

  1. Demanda reprimida – Durante a pandemia, milhares de procedimentos foram adiados, criando um acúmulo que até hoje não foi totalmente absorvido.
  2. Falta de estrutura regular – Muitos hospitais operam com capacidade limitada de centro cirúrgico, insumos e equipes.
  3. Gestão deficiente – Cancelamentos frequentes, escalas mal organizadas, regulação lenta e indicadores de produtividade pouco transparentes.
  4. Baixa produtividade crônica – Centros cirúrgicos funcionando abaixo da capacidade, leitos fechados por falta de equipe ou insumo e longas filas que poderiam ser menores com gestão eficiente.

⚖️ A dupla face dos mutirões

O lado positivo:

  • Reduzem filas em curto prazo.
  • Dão visibilidade às ações do SUS.
  • Mobilizam equipes e recursos de forma concentrada.
  • Trazem esperança imediata para pacientes que esperam há meses ou anos.

⚠️ O lado sombrio:

  • São pontuais e não sustentáveis: a fila volta logo depois.
  • Podem sobrecarregar equipes, aumentando risco de erro e fadiga.
  • Custos extras nem sempre são divulgados com clareza.
  • Tornam-se ferramentas políticas, mais focadas em manchetes do que em mudanças estruturais.
  • Escondem baixa produtividade: se é possível operar tanto em um único dia, por que não manter ritmo semelhante no cotidiano?

📊 Dados que revelam a contradição

  • O mutirão de setembro de 2025 promete elevar em 40% a produção cirúrgica dos hospitais universitários federais. Mas se essa capacidade existe, por que ela não é rotina?
  • Programas estaduais, como o Opera Acre, preveem mais de 11 mil cirurgias eletivas em um único mês, mostrando que há espaço de ampliação mesmo fora de eventos especiais.
  • Relatórios mostram que parte dos cancelamentos de cirurgias no SUS ocorre por falta de material básico, leitos de UTI ou exames pré-operatórios não realizados — falhas de gestão, não de demanda.

🔎 Reflexão crítica: mutirão como cortina de fumaça?

Mutirões aliviam a pressão, mas desviam o olhar da pergunta central: qual a produtividade real e sustentável dos hospitais públicos brasileiros?

Se um hospital consegue operar centenas de pacientes em um final de semana, isso pode indicar que, no dia a dia, está produzindo muito abaixo de sua capacidade. E a sociedade merece transparência: quantas cirurgias são feitas em dias comuns? Qual a taxa de cancelamento? Quantas horas os centros cirúrgicos ficam ociosos?


🚑 Caminhos para além dos mutirões

Para que deixem de ser apenas paliativos, é preciso:

  1. Monitorar e publicar indicadores de produtividade: uso de salas cirúrgicas, cancelamentos, taxa de ocupação.
  2. Fortalecer a regulação: agilizar processos e garantir justiça na ordem da fila.
  3. Investir em equipes e infraestrutura permanentes: menos leitos bloqueados, mais continuidade de atendimento.
  4. Planejamento regional: descentralizar os serviços especializados e reduzir desigualdades entre capitais e cidades menores.
  5. Transparência e controle social: relatórios públicos que mostrem se os ganhos dos mutirões viram rotina.

📌 Conclusão

Mutirões de cirurgia no SUS são um alívio necessário, mas não podem ser confundidos com solução. Enquanto não enfrentarmos os problemas de gestão, baixa produtividade e falta de transparência, estaremos sempre apagando incêndios em vez de construir um sistema mais eficiente e justo. Afinal, saúde pública não deveria viver de mutirões — deveria viver de gestão contínua, eficiente e de resultados sustentáveis.

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