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Caso Benício: o que o erro com adrenalina revela sobre a segurança do paciente infantil

🩺 O que aconteceu com Benício: linha do tempo do caso

A morte de Benício Xavier de Freitas, um menino de 6 anos atendido em um hospital particular de Manaus, reacendeu um debate urgente: por que tragédias evitáveis continuam acontecendo nos serviços de saúde? Por que só discutimos segurança do paciente quando a notícia estampa o noticiário?

Este artigo busca responder essas perguntas com base na ciência, na prática e na cultura de segurança — aquela que salva vidas todos os dias, mesmo quando ninguém está olhando.


🧩 O que aconteceu com Benício — linha do tempo do caso

👦 Quem era a criança?

Benício foi levado ao hospital com tosse seca e suspeita de laringite — um quadro comum, tratável e que raramente evolui para risco grave.

💉 A prescrição que desencadeou a tragédia

Foram prescritas três doses de adrenalina de 3 mg, via endovenosa (EV), a cada 30 minutos.

Essa via de administração é altamente arriscada em pediatria. Protocolos internacionais deixam claro que adrenalina EV só deve ser usada em cenários específicos, com dose calculada por peso, diluição correta e monitorização intensiva.

⚡ O que aconteceu depois?

Minutos após a primeira dose, Benício apresentou:

  • taquicardia intensa
  • queda de saturação
  • palidez
  • rebaixamento do nível de consciência

Foi levado para a UTI, entubado e, posteriormente, sofreu parada cardiorrespiratória. Mesmo com todos os esforços, não resistiu.

🗂️ O que disseram as autoridades?

O Conselho Federal de Farmácia e órgãos de vigilância apontaram falhas como:

  • ausência de dupla checagem
  • falta de análise farmacêutica
  • fragilidade no processo de prescrição e validação

O próprio médico plantonista admitiu erro na prescrição.


❌ Adrenalina: quando salva e quando vira risco

1️⃣ Erro de prescrição

A dose e a via EV não eram compatíveis com o quadro da criança.

2️⃣ Falha nas barreiras de segurança

Não houve dupla checagem, revisão farmacêutica ou travas de alerta.

3️⃣ Comunicação falha

A prescrição gerou interpretação equivocada — um dos fatores mais comuns em eventos adversos.

4️⃣ Ambiente de urgência

Pressa, sobrecarga e ruídos aumentam o risco de erro.

5️⃣ Erro individual e sistêmico

O caso só aconteceu porque não havia camadas de proteção suficientes.


📚 Erros de medicação em crianças: o que dizem os estudos

Nem sempre com desfecho fatal. Nem sempre aparece na mídia. Mas:

  • erros de medicação são um dos três principais eventos adversos no mundo.
  • a maioria não é notificada.
  • equipes têm medo de relatar por cultura punitiva.
  • hospitais subestimam quase-erros, apesar de serem fonte rica de aprendizado.

Quando não notificamos, o sistema não aprende.


🛡️ O que pais e profissionais podem fazer para reduzir o risco de erros

Uma cultura de segurança sólida teria incluído:

✔️ Dupla checagem de medicamentos de alto risco

A adrenalina está nesse grupo.

✔️ Protocolos pediátricos claros

Dose por peso, diluição, monitoramento.

✔️ Sistema de prescrição com alertas automáticos

Evita combinações perigosas.

✔️ Farmácia clínica atuante

Validação de dose e via em áreas críticas.

✔️ Comunicação estruturada (SBAR)

Evita ruídos entre médicos e enfermagem.

✔️ Cultura justa

Onde profissionais podem admitir dúvidas ou erros sem medo.


📌 O QUE PRECISAMOS APRENDER COM ESSA MORTE

  • Erro existe — precisamos detectá-lo antes que cause dano.
  • Prescrição insegura deve acionar alertas clínicos.
  • Ambientes de urgência precisam de protocolos robustos.
  • Notificar não é acusar — é prevenir.
  • Mídia não substitui investigação técnica.

Trata-se de uma responsabilidade coletiva.


📣 CHAMADO À AÇÃO (CTA)

👩‍⚕️ Profissionais de saúde

Notifique. Questione. Releia. Cheque. A vida depende disso.

🧑‍🤝‍🧑 Pacientes e familiares

Pergunte. Peça para repetir orientações. Confirmar é um ato de cuidado.

🏥 Gestores

Invistam em sistemas seguros. O custo do erro é sempre maior.


🕊️ Conclusão

A morte de Benício não pode ser lembrada apenas como manchete.
Ela precisa ecoar como um lembrete duro — e transformador — de que segurança do paciente não é luxo: é obrigação moral, técnica e humana.

Que essa tragédia gere mudanças reais.
Que nenhum outro nome precise sofrer o que Benício sofreu.

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